O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), comunicou a integrantes do governo federal que pretende estabelecer contato direto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A iniciativa ocorre após a aprovação, na noite de quarta-feira, 25, de um projeto que anulou o decreto presidencial sobre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), medida que, segundo o Ministério da Fazenda, pode reduzir a arrecadação em aproximadamente R$ 10 bilhões.
De acordo com o jornal O Globo, interlocutores do Palácio do Planalto afirmaram que Motta manifestou interesse em “baixar a temperatura” da crise com o Executivo. O parlamentar não estipulou uma data para entrar em contato com Lula, mas sinalizou que deseja abrir um canal de diálogo direto com o presidente da República.
O gesto de aproximação acontece em um ambiente de tensão entre os Poderes. Parlamentares que acompanharam reuniões entre Motta e integrantes da base aliada relataram que o presidente da Câmara demonstrou insatisfação com a condução da articulação política do governo federal. Apesar das críticas, Motta descartou qualquer intenção de rompimento institucional com o Palácio do Planalto.
A movimentação ocorre após a maior derrota do governo no Congresso desde o início do terceiro mandato de Lula. A aprovação do projeto que revoga o decreto do IOF foi conduzida por Motta e anunciada por ele nas redes sociais às 23h35 da terça-feira, 24. A divulgação surpreendeu o Executivo, que havia sido informado de que a proposta seria votada apenas após o recesso parlamentar.
Segundo informações da jornalista Renata Agostini, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou entrar em contato com Motta ao longo da quarta-feira, sem sucesso. A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também tentou conversar com o presidente da Câmara, mas não obteve retorno. Apesar disso, Motta manteve comunicação com outros integrantes do governo, com os quais discutiu o impacto da medida e indicou disposição para construir uma saída política.
A decisão do presidente da Câmara teve impacto direto sobre a arrecadação federal. O decreto revogado previa aumento na alíquota do IOF, instrumento utilizado pelo governo para recompor receitas e cumprir metas fiscais. Com a anulação da medida, a equipe econômica calcula uma perda estimada em R$ 10 bilhões, o que pode afetar o equilíbrio das contas públicas em 2025.
O Planalto avalia que a antecipação da votação impediu qualquer tentativa de articulação para evitar a derrota. Auxiliares de Lula afirmam que não houve tempo hábil para mobilizar a base governista, uma vez que a movimentação do presidente da Câmara foi tornada pública pouco antes da meia-noite.
Na manhã de quinta-feira, 26, Lula despachou no Palácio do Planalto e, à tarde, participou de evento em São Paulo, onde lançou um novo programa habitacional. Durante o dia, o presidente foi informado sobre o avanço das conversas entre ministros e Hugo Motta, mas ainda não há previsão oficial para um encontro entre os dois.
A medida aprovada pela Câmara ainda precisa passar pelo Senado para que a revogação do decreto seja consolidada. O governo avalia cenários para tentar reverter a decisão na outra Casa Legislativa ou buscar alternativas jurídicas. Uma das opções em análise pela equipe da Fazenda é contestar a decisão no Supremo Tribunal Federal (STF), sob o argumento de que o decreto revogado está dentro das atribuições legais do Executivo.
Na base aliada, há pressão por mudanças na articulação política. Parlamentares afirmam que a votação expôs falhas na comunicação entre o governo e o Congresso e cobraram maior presença de ministros nas negociações. Parte dos deputados aliados também defende a reorganização da liderança governista na Câmara.
O episódio reacendeu o debate sobre o equilíbrio entre os Poderes e os limites da atuação legislativa sobre atos do Executivo. Técnicos da área jurídica do governo analisam se a derrubada do decreto pode configurar invasão de competência, especialmente em casos que envolvam medidas fiscais urgentes.
Nos bastidores, aliados de Lula afirmam que a retomada do diálogo com Motta é vista como essencial para conter danos políticos e fiscais. A sinalização de abertura feita pelo presidente da Câmara é interpretada como um movimento estratégico para preservar espaço na interlocução com o governo, sem romper com a base.
Enquanto o Planalto busca recompor a articulação, o Ministério da Fazenda concentra esforços em encontrar fontes alternativas de arrecadação para compensar o impacto da decisão. O governo deve intensificar a agenda com líderes do Senado e do Congresso Nacional nos próximos dias.
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